sábado, 7 de março de 2015

Não me lembro

Oiço a respiração de alguém. Não muito longe. Não muito perto. Está escuro. Olho para os defeitos que tem o meu tecto e não consigo dormir. Aqui anda um mosquito à procura de sangue. Foi-se embora, mas a respiração não. Mantenho-me distante do meu passado. Sem ele quem eu serei? Fiz isto em busca de um presente melhor mas continua tudo igual. Nada permanece igual aliás, a distância é cada vez maior. A indiferença interfere. O que é feito daquela rapariga que conheci a uns anos? Desaparecida talvez. Morta e enterrada no tempo que consome a pessoa que um dia era e esta que já não sei quem sou. Algures neste rasto que deixei pela culpa. Algures nestes caminhos que desvendei na ilusão. Estarei eu algures perdida e encontrada num local que não existe recordando as memórias que já não me lembro, estarei eu ali intacta na mentira numa sede de verdade num mundo que não existe e nunca existiu. Esqueci quem eu era e já não me lembro quem fui. Sou um não ser. Porque já não sei se vivo se já morri. Esqueci de quem um dia era e já não me lembro de quem sou.


























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