terça-feira, 31 de março de 2015

Oxalá

Por vezes sento-me no banco e fico a olhar para as pessoas que estão do outro lado. Sempre na mesma vida, sempre o mesmo ritual, sempre aquele deja vu que já se sabe decor. Vejo tudo à minha volta e tudo é tão vazio. Já ninguém sorri, já ninguém tem vontade de sair de casa e de começar um novo dia. Eu. Eu, ando aqui a ver isto tudo e procuro razões, pequenas razões para que possa continuar esta vida monótona. Posso dizer que há futuro, mas o passado já passou e ele foi o futuro que desejei que fosse melhor, acreditem, não tive grande futuro e não tenho um excelente passado. 

Arrependo-me de tanta coisa, coisas que podia ter feito, outras que fiz e agora vejo que foram simplesmente mais um erro. Erros, tantos erros e eu nunca aprendo, principalmente a não confiar nas pessoas. Esta minha mania de acreditar que as pessoas são diferentes, esta minha mania de acreditar em fantasias. O que vale a pena? Já não sei, mas vou tentando saber. Agora, estou aqui sentada neste banco e tudo permanece igual. Oxalá, houvesse algo diferente para ver, algo diferente, algo novo para acreditar. Um novo amor, uma nova vida.











segunda-feira, 30 de março de 2015

Suspiro inquieto

Estou a sentir aquele formigueiro outra vez. Corrompe a calma e transtorna-se a alma num suspiro inquieto que grita e chama por ti. 

A minha voz muda e rouca já não te consegue alcançar. Os meus olhos cegos de ver perderam o teu rasto. O meu corpo, treme não de frio mas de medo que o dia que tanto anseia nunca chegue.

O mundo gira sem parar e eu aqui estou à janela neste pânico louco à procura de uma saída de um sítio que eu conheço tão bem. Gritei, lutei mas falhei em te agarrar e fazer-te ficar. 




Eu sei, fracassei e mesmo assim tentei. Tentei e falhei de novo. Não estás aqui e nem nunca estarás. O mundo parou sem sequer ter existido e eu que olho lá para fora, para a destruição que criei em mim mesma, deixo-me perder nessa medíocre vida que há muito deixou de ser vida para se tornar em cinzas.






Rumo

Como conseguiste chegar tão longe? Como aguentaste esse mundo que te esmagou os ossos e fez cinzas da alma que um dia tiveste? Diz-me. Se o mundo tem algo de bom porque acabamos todos no mesmo buraco? Ardemos no inferno mesmo quando estamos vivos. Esfumam-se as memórias e com elas todas as palavras algumas vez pensadas. 

O mundo gira tanto que perdemos o nosso rumo. Queremos ir a algum lado sem ter um lado para seguir. Queremos ter alguém sem ter alguém para ter. 

Diz-me como conseguiste te manter vivo mesmo na morte? Morremos na vida e na vida vivemos a morte. 















sexta-feira, 27 de março de 2015

Perto

De onde és tu? De perto. Ainda bem, não sei se viveria longe de ti. Como estás tu? Radiante como um pôr-do-sol num dia de verão.


A vida tem-se escasseado e fomos perdendo aquilo que o destino tinha para nos dar. O que foi feito dele? Não sei, deve andar por aí, a vaguear em novas ideias para o nosso viver. 


Estás aí? Gostava de te convidar para um café. Gostava de te aquecer como aquele chocolate quente que bebes em frente da lareira. 


 Mas, o que foi feito de nós? Estaremos perto de novo?











segunda-feira, 23 de março de 2015

Sem saída



A chuva tocou em tudo o que fui,
Essa água secou tudo o que em mim ficou.
Fujo por ruas sem saída, 
Procurando a perfeição que alguém sonhou.

Talvez fosse uma sombra na parede,
Aquela que eu era sem saber,
Derrotada pelas memórias,
Pelo mundo que eu nunca quis ver.

Sem saída,
Procuro-te nas ruas deste vazio.














sábado, 21 de março de 2015

Nunca te direi

Amo-te, tenho saudades tuas. O que tens feito? Nunca mais te vi (sem ser em pensamento). Amo-te, quero-te ter aqui comigo nesta noite fria. Amo-te, quero sentir-te nos meus braços, quero partilhar contigo o mais apaixonado beijo. Amo-te, sabes? Eu amo-te e não vejo a hora para poder te ver mais uma vez. É tão forte aquilo que nos une e estás tão longe. Não estás aqui mas eu amo-te. Amo-te e tenho saudades tuas, mas isto tudo palavras escritas num silêncio que não interrompe a saudade, palavras ditas ao vento para que as leve para longe, palavras que digo sem saberes, palavras essas que nunca te direi.








Sempre assim

Serás sempre assim,
Tocas todos os universos que crias em mim.
Estremeço, não minto,
Não escondo toda a força daquilo que sinto.
Longe de conseguir escapar,
De fugir ao magnetismo do teu olhar.

Serás sempre assim,
Não consegues pôr inicio a um fim,
Paraliso, tenta perceber,
Que fazes a saudade crescer.




sexta-feira, 13 de março de 2015

Amante

Diz-me como foi todas aquelas noites que passaste sem mim. Quando o dia acaba e a noite aparece e com ela todos os pensamentos obscuros sem ter alguém a teu lado para te reconfortar. Diz-me como foi, teres andado por aí de mãos dadas ao sofrimento com tantas memórias deixadas em pensamento.

 Diz-me, sem deixar uma única palavra para trás, se houve alguém que tu confiasses mais do que em outra pessoa qualquer.


O mundo que era tão nosso, foi trocado por um mundo de pura agonia e remorso, Diz-me o que foi todo aquele tempo que disseste ter desperdiçado a meu lado. Diz-me a verdade porque até agora a mentira foi a tua melhor amante.









segunda-feira, 9 de março de 2015

Cala-me

Cala-me. Cala-me a dor da minha alma quando me perco nas ruas da amargura e da imensa solidão. 

Cala-me esta ânsia que vivo e sinto explodir dentro do peito cada vez que olho para o relógio e vejo as horas avançar. Cala-me. Cala-me esta saudade de quem ficou para trás sem deixar nada para contar histórias. 

Cala-me esta vontade de ir, de voltar a todo o lado e a lado nenhum. Cala-me este medo de sentir o que vejo e de ver o que sinto. 

Cala-me. Cala-me a vida que já não tem nada para dar, a vida que perdi e que não desejo mais encontrar. Cala-me, cala-me na morte que tudo na vida é dor, amor, saudade, medo e ânsia. 

Cala-me a voz que já não tenho. Cala-me porque já não tenho mais nada para dizer.











Esboçar

E foi aí que me apercebi que as palavras se tinham esgotado. Fiquei em silêncio à espera de uma resposta que me fizesse de novo encontrar as palavras certas para te dizer o que quero dizer, para te dizer o que sinto. Fiquei em silêncio e comecei a sentir aquelas lágrimas formarem-se nos meus olhos de como quem desespera por ouvir-te falar. Aquela dor no meu peito já sufocava e os meus pulmões já pediam mais ar. Perdi-me naquele choro imenso pedindo-te para dizeres alguma coisa, fosse o que fosse. Começavam-me a faltar as forças, já nem eu conseguia falar. Tinha tanta coisa para te dizer, fui perdendo tempo a contar os meus sentimentos por ti a quatro paredes de um quarto vazio. Tentei de várias formas e feitios esboçar o que a minha alma gritava, de uma forma, ou de outra, limitei-me esboçar aquele sorriso todas as vezes que te via passar. Nunca consegui perceber o que sentia exactamente por ti, mas aquela força esmagava-me e fazia com que o universo parasse só para olhar para ti. "Tarde demais" pensei eu. Como poderia não ser? Já aqui não estavas, fiquei sozinha ali a esborratar a maquilhagem toda, passava as mãos pelos olhos na esperança que as lágrimas parassem, mas não, as lágrimas eram cada vez mais e eu já não conseguia respirar. Senti uma mão no meu queixo, puxando-o para cima, fez-lhe olhar nos olhos dele, parei de chorar só para o ouvir dizer "És linda quando sorris."





domingo, 8 de março de 2015

Sei lá

Eu sei lá. Sim, eu sei lá o que raio me fez olhar para ti. Sei lá, mas quando te vi senti qualquer coisa, sei lá o quê.

Sei lá, sorri-te e estremeci quando sorriste de volta. Baixei o olhar e puxei a franja para trás da orelha, mas não deixei de sorrir, sei lá porquê. Quando levantei o olhar, já não estavas com o teus amigos, procurei por ti, mas não vi em lado nenhum. Sei lá, o meu sorriso foi embora, tinha perdido o meu sentido. Bebi aquele copo de vodka de penalti, peguei na minha mala e fui-me embora apenas na minha companhia. O vento que passava pela porta fez com que o meu cabelo ficasse todo fora do sitio, cheguei à rua e lá estavas tu, a fumar o teu chersterfield, atiraste a beata para o chão e olhaste para mim, foste ter comigo, puxando a minha franja para trás da orelha, sem querer sorri até corei, baixei o olhar e quando levantei a cabeça tinhas sorrido de volta. 

Perdi-me nesse sorriso, sei lá.









Tens razão

Desculpa. Tens razão, fui longe demais. Desculpa. Tens razão, não devia ter feito o que fiz. Meu amor, tens razão em tudo o que dizes, eu bem sei. Desculpa. Tens razão, devia ter-te dado ouvidos. Não me devia ter escondido. Não devia ter dito o que disse. Meu amor, bem sei. Não foi por mal, guardei tantas memórias de ti junto a mim. Guardei a nossa perfeita ideia de um nós para sempre. Tens razão, eu bem sei. Disse que ainda te amava, não o devia ter mostrado, mas vi-te ali naquela luz e quis ir ter contigo. Desculpa, não devia ter ido, bem sei. A vida não tem nada para dar se não te tiver comigo. Devia ter sido mais forte, bem sei. Tens razão. Escrevi-te tantas cartas mesmo sabendo que nunca as irias ler. O mundo parece tão minúsculo quando não estás aqui. Tantos beijos trocados naquela praia em que o mar nos tocava os pés. Aquele céu meio laranja, meio vermelho, bem me lembro dele, bem me lembro de te ter dito que não queria mais perder o sorriso que me davas. Disseste que não te restava muito tempo. Disseste que não o querias perder com discussões. Numa despedida que faço a mim mesma, me entrego à morte para te poder ter comigo de novo. Que assim seja. Desculpa. Devia ter-te dado ouvidos. Tens razão. Bem sei.








Tão fria, tão cruel

O que sou assusta-me,
Meto-me medo,
Tão fria, tão cruel.

Eu não era assim,
Desejar o ódio,
Querer a morte,
Tão fria, tão cruel.

Tudo o que vejo,
Vejo vingança,
Quero sangue derramado,
Fiquei assim,
Tão fria, tão cruel.











Não sabendo voar

Desapareci nas sombras da mentira,
Desapareci nas sombras de um amor,
Tudo o que ele me dá e o que me tira,
Uma amargura e uma profunda dor.

Não fosse muito longe daqui,
Não demasiado perto,
Com essa força estremeci,
Na loucura do que é incerto.

Foste e não olhaste para trás,
No medo do passado que fica,
Não muito longe do que se é capaz,
Não muito perto do que se intensifica.

Mesmo não acreditando,
Mesmo não sabendo voar,
De tudo o que fomos dando,
De tudo o que se pode ficar,
Um grande desejo de morte,
Uma grande vontade de amar.











Passado




Do passado deixei os livros rasgados,
As folhas do tempo de um texto apagado.
Palavras ditas num ser ou não ser,
Frases escritas num desejo de morrer.










Um sem o outro

Pegar nesse tempo que é tão nosso e fugir para um outro mundo. Correr para longe dessas mentiras que o mundo criou, correr na pressa de criar uma nova verdade, nesta realidade que é tão nossa. Julgamos que estamos sozinhos, num caminho não iluminado ou talvez num caminho que seja a nossa ruína. Falta-nos a força e a força de ter coragem. Andamos cegos de querer ver, de querer um motivo para ficar.

De que nos vale o mundo quando não nos sentimos nele?

No final? No final, não estamos sozinhos. Temos-nos um ao outro, dois corpos, duas almas que de mãos dadas vão os dois enfrentar esse mundo que existe por aí algures. Vão caindo, vão sofrendo, sentir a dor que é demais. Um sem o outro, talvez não houvesse mais mundo, mais ver, mais querer, mais sentir, mais vida. Um sem o outro, não haveria mais ninguém.


A Procura

Um aperto no peito, um aperto na alma. Dói, e arde como se tivesse no inferno. Não quero conhecer esse mundo obscuro que me queres fazer ver. A luz cega-nos, e aí vemos o que vem de dentro, essa vontade de nos encontrar, de ver.
Este dia, esta noite, o sol deixará de brilhar e as estrelas aparecem no seu lugar. A solidão aqui continua. Aqui estou eu, não consigo ver como era suposto. Ouço o relógio, ele está a levar o meu tempo para longe. Aqui continuo de mãos atadas a um nada. Não me queres, não me precisas, não da mesma forma que te quero, da mesma forma que preciso de ti. Perco-me na vontade, na coragem que tenho andado à tanto tempo à procura.







































sábado, 7 de março de 2015

Não me lembro

Oiço a respiração de alguém. Não muito longe. Não muito perto. Está escuro. Olho para os defeitos que tem o meu tecto e não consigo dormir. Aqui anda um mosquito à procura de sangue. Foi-se embora, mas a respiração não. Mantenho-me distante do meu passado. Sem ele quem eu serei? Fiz isto em busca de um presente melhor mas continua tudo igual. Nada permanece igual aliás, a distância é cada vez maior. A indiferença interfere. O que é feito daquela rapariga que conheci a uns anos? Desaparecida talvez. Morta e enterrada no tempo que consome a pessoa que um dia era e esta que já não sei quem sou. Algures neste rasto que deixei pela culpa. Algures nestes caminhos que desvendei na ilusão. Estarei eu algures perdida e encontrada num local que não existe recordando as memórias que já não me lembro, estarei eu ali intacta na mentira numa sede de verdade num mundo que não existe e nunca existiu. Esqueci quem eu era e já não me lembro quem fui. Sou um não ser. Porque já não sei se vivo se já morri. Esqueci de quem um dia era e já não me lembro de quem sou.


























Matei-o

É tudo sobre nós. Dizem que não confiam em ti, em mim, em nós. Talvez sejamos nós com medo de enfrentar o nosso pior inimigo. Talvez o nosso inimigo é quem somos. Não podem ver, não podem tocar. Se o fizerem, se te magoarem, magoam-me a mim também.


O que temos, ninguém pode tocar nem chegar perto de saber o que é real.

Algures no meu mundo, cruzei-me com ele, vi as balas espalhadas no chão, a caixa onde guardava a minha arma, sem recear e hesitar, disparei. Disparei e não me arrependi de todo de o ter feito. Gostei, gostei de ver o sangue dele a escorrer pelas paredes, espalhado no chão. Sorri , sorri de alivio. Cheguei mais perto de ti, e assim matei-o, por mim, por ti, por nós.

























Sem Tempo

Números. Conto os minutos e o tempo está parado. Quanto tempo me resta? Corro e corro nesta longa estrada que não vai a lado nenhum. Conto as horas, o relógio congelou. Quanto tempo já passou? Não importa, enquanto ainda aqui estiver é porque ainda me resta tempo, tempo para respirar mesmo não respirando. Tempo. Tempo para viver a vida que não tenho. Um, dois, três segundos. Perco o ritmo, perco o tempo. Perco aquilo que nunca tive, perco o que não há para perder. Aqui estou. Aqui permaneço. Conto e conto. Tempo parado que não pára. Ainda há tempo. Não muito. Não muito mais para dizer, não muita mais vontade de ficar. Perdi o nexo, perdi a noção. Fugiu-me, fugiu. O tempo não pára, não corre, ele voa e não tem asas. Os ponteiros deste relógio, onde estarão eles? Que aqui não estão. Deviam de estar no seu devido lugar que é dar tempo. Sinto um sufoco. Sinto um aperto. Sinto-me cair. Fiquei sem tempo. Adeus.













Vivê-lo na morte



Não quero que me afastes. Quero que me aproximes. Conta-me o teu segredo mais secreto de todos. Quero-te encontrar. Não me deixes perdida. Deixa-me pistas. Leva-me até a ti. Deixa-me encontrar-te para me encontrar a mim. Deixa-me ver o teu ser para ver o meu. Encontro-me em ti como tu se te tivesses arrancado de mim. Confia-me a tua alma. Deixa-me estar perto dela. Contagia-me com a tua força e não vás, por favor! Esperança encontrei num olhar. Amor encontrei no teu coração. Apaixonei-me. Deixei-me levar pela tua luz. Ilumina-me. Diz-me. Conta-me. 

Faz-me ver que sou o que precisas. Faz-me acreditar que te faço falta. Mata-me. Mata-me com esse amor. Deixa-me vivê-lo na morte onde é tudo eterno. Faz-me reviver. Faz-me viver e mata-me de novo. Só para poder acreditar que vai durar. Que é verdade. Não vás, por favor! Afoga-me no sentido sem ter sentido algum. Faz-me viver a encontra-lo. Faz-me viver para encontrar-te. Depois? Mata-me. Mata-me com esse amor. Deixa-me vivê-lo na morte onde é tudo eterno.












Olhos semicerrados

As lágrimas cegam-me, os meus pensamentos perdem-se num vazio imundo. Minha respiração quase que pára por uns segundos, mas volta com sede de ar. O meu corpo não mexe, paralisou de tanto tremer. Os meus lábios secos, que desejam os teus , têm sede de ti. As minhas mãos, abraçadas a nada, querem que estejas aqui. O vazio invade, com o sentimento de estar perdida no meio do nada de tanta confusão. Só te queria por perto mas estás longe do perto que estamos. Cabeça baixa, olhos semicerrados esperam que vejas que nossa cegueira não deixa ver, que aquilo que ambos vemos é o que ambos precisamos.













Fingidor

És um fingidor da vida que na morte procura a vontade de viver. És um fingidor. Finges com esse sorriso feliz e com esse olhar penetrante. Essa alma contagiante que mostra a tua vontade de viver, mas é uma vontade fingida. Tudo em ti é fingimento, com sentimento de dor em ti que aparece sem consentimento. És um fingidor nas horas vagas e nas horas em que te mantens ocupado para tentar esquecer do que não te queres lembrar. És um fingidor em casa e na rua. És um fingidor para ti mesmo e para os outros. 

Dizem que tens um brilho nos olhos que é magnifico, mal sabem eles que é a tua vontade de chorar a falar mais alto. És um fingidor na felicidade e e um fingidor na dor. És um fingidor e tu que sabes que fingir é a tua melhor hipótese para a vida que queres acreditar que tens.




De noite


E à noite é assim. Um aperto do peito. Memórias na minha cabeça. Um sorriso ao me lembrar de como éramos felizes. O desejo de voltar atrás e poder fazer melhor. Voltar atrás e perceber qual foi o erro que cometi para me estar acontecer isto outra vez e outra vez.

 De noite é tão mais difícil esquecer tudo, esquecer-te. De noite a escuridão instala-se. A dor apodera-se de mim. Enquanto isso acontece, penso. Penso em tudo o que quero esquecer. Em tudo aquilo em que me esforço todos os dias para não me lembrar. Não me lembrar desta vontade de te abraçar. Desta vontade de te olhar nos olhos. Desta vontade que tenho em estar contigo de novo. 

Gostava de poder apagar. Apagava tudo e nunca mais sentia este aperto. Apagava tudo e deixava de te ver na minha cabeça a toda a hora. Já é demais sabes? E doí demais.













Disse-te



Eu disse-te. Eu disse-te que tudo se tinha perdido e tu não acreditaste. Teimoso como sempre, não acreditaste. Eu disse-te que estavas a deitar tudo a perder e não quiseste ouvir. Casmurro como sempre, não quiseste ouvir. Eu disse-te que estava a desistir de tudo mas não ligaste. Ignorante como sempre, não ligaste. Eu disse-te o quanto me estava a doer por dentro. Ocupado como sempre, não chegaste a horas.

E agora? Agora que te disseram que parti, que vais fazer com as cinzas do nosso passado?



Primeira vez

Quero-te ter como a primeira vez. Como se a vida afundasse nas amarguras e procurasse em nós um encanto para se puder viver. Diz-me que sim, que ficas comigo mesmo que tenhas que ir. A vida é tão pouco quando não estás aqui para partilhar um momento de silêncio em frente daquela janela a ver o pôr-do-sol. Oiço o bater da porta e vejo que não entraste. Fiquei aqui nesta imensidão que se torna cada vez maior na tua ausência. Faz-me viver o que a vida me faz perder como areia a passar-me pelos dedos. Vejo tudo à volta cair e tu aqui não estás. Pedi-te que ficasses, para que me fizesses amar-te uma última vez. 


Os raios de sol partem o vidro da janela e aquele nosso retrato já não está na parede. O que foi feito de nós? Um nós que viajou para lado nenhum, fugiu para um mundo que já não existe. Diz que sim, que voltas, que ficas, que és meu como a primeira vez.








Partes de mim


O que é feito da nossa verdade? Daquela realidade? De mãos dadas a memórias que não me deixam ir. 

Abraçada a uma almofada à noite porque esta saudade não me deixa dormir. Olhar fixo no vazio. Dentro de mim. Impossível perder-me quando já me sinto perdida. De mão estendida, pedindo-te para voltar. 

Mesmo que me tenhas feito chorar. Mesmo que me tenhas magoado. Me trocado. Parte de mim só é feliz contigo. Outra. Essa parte de mim não te perdoa.












Só eu


As mentiras são tantas. A única coisa que queria era um pouco de verdade para poder ao menos acreditar em algo.

 Não acredito em nada. A esperança, essa escasseasse. O amor. Esse ainda me doí aqui dentro. Essa dor que sufoca. Que aperta. Que vive. Um ser imortal. Consome e destrói. Deixa-nos cegos de futuro e de olhos bem abertos para o passado. 

Nada de bom acontece. Essa dor pesa. Pesa no coração, na alma, na cabeça. Uma confusão. Sem fim. Sem inicio. Linha do infinito. Às voltas no mesmo lugar. Parada no mesmo sitio. Sem coragem. Sem força. Olhos fixos no chão. Nem lágrimas me restam para ser sincera. Só essa dor. Só eu.














Loucura


As loucuras de uma louca como eu o que fazem de mim? Meramente louca porque limito-me a fazer loucuras? Ou nasci mesmo assim? Louca, sem cuidado nenhum?

Sou o que sou. e não sou o que me fazem ser! Loucuras são eu, e eu sou a loucura e não louca! Talvez não possa fazer sentido, mas para mim a loucura pode muitas vezes dizer simplesmente uma coisa ou várias coisas ao mesmo tempo. Prefiro acreditar que o mundo é completamente louco mesmo. E eu sou uma louca que faz da loucura o seu meio de liberdade, o seu modo de ser! Sou livre, sou louca. Sou eu e ponto final.

Só um louco como eu pode entender que só a loucura faz sentido. Facto: Sou o que sou, prefiro andar e cair sozinha, do que alguém me dizer o que fazer ou decidir por mim o que sentir. Sinto. Sinto amor, sinto dor. Sinto o ar. Sinto a brisa do mar que passa por mim como minha companheira. Sinto. Sinto aquilo que muitos poucos ou nenhuns sentem. Sinto aquilo que tenho na cabeça que ninguém consegue entender o quê. Sinto. Sinto-me. Sinto-me Louca!